segunda-feira, 12 de abril de 2010

Capitão Fagundes: semblante de Justiça popular na fronteira - Parte I

Apuntava o sol entre as araucária, nunca alguém poderá ver alvorecer como tal. Os habitante de Bella Vista de Palmas só acordavam mais tarde um poco, muitos deles nunca nem viram o nascer do sol naquelas localidades - quem dirá conhecer outro para comparar com aquele. A suntuosa beleza das propriedades logo se cobria da sinfonia do cantar do galizé, logo interrompido por um gritedo alucinante advindo da bodéga do Paulista.

Seu Aderbal, bigode, cabelo lambido, apesar de ser paulista, vinha das bandas de Castro. Ali montara tal mercearia com o intuito de prosperar, entretanto, seu mal humor e sua ganância expulsavam os cliente dando-lhes maior satisfação fazer caminhada até União - 40 légua a frente - ou desenvolver escambo com os tropeiros que por ali raramente passavam. Em uma semana ali aberta a bodéga apenas umas onça de charque, 2 litro e 300 de leite, duas trocha de arroz e talvez um saquito de 1 kilo de sal, nada mais...

A falência era certa. Um bolão rodava entre as 6 quadras daquela redondeza. 5 galinha e um porco que ele ia embora daqui dois dia, uma gazosa e doze litro de leite que demorava meio dia, tinha caboclo que apostava até que ia ser daqui uns minuto. E não deu nem nega, o ganhador foi o Véio Galião. Por quê? Ahhh, sim, enquanto prosiava do contexto do hóme esquecia do assucedido. Pois bem, a farra que o loco fazia era porque o Alejadinho Tomé, surdo-mudo, esfarrapado, desabrigado e tudo torto - não falo desdentado porque isso era normal naquelas redondezar - havia pousado escorado na frente daquela bodega afim de escapar do sereno e sem querer havia relado as costa na pintura nova do estabelecimento de Aderbal.

Sua atitude quis refletir a fuga do povo ao redor para com seu estabelecimento. Uma vingança cruel e sem razão na tentativa de ser justificada por um deslize dum pobrezito rapaz. Covardia tal até hoje registrada na boca do povo da região, logo acordou Tomé com um surdão nas orelha foi o jogando pra cima do barro e o pobre saiu resmungando: "humhumhumhumhum". O paulista gritava, não balbuciava: "Daqui pra frente é assim aqui e se não gostarem vão procurar JUSTIÇA, caquedo. Antes que eu me proclame por Ela". Galgava o indivíduo entre os olhares de medo do povo, que naquela manhã acabara acordando mais cedo (umas nove horas, tarde? Pra quem tinha que só cuidar do gado e dos porcos soltos? Era cedo) espiando o sucedido entre as frestas da cara - cada laminado de madeira serrada dava pra passar um gato mais ou menos.

Suas palavras praguejando contra o povo da região, entretantas, não sairiam impunes. Proferidas a partir da língua seriam engolidas a seco com língua e tudo. Mal havia terminado seu sermão herege, nem havia percebido do outro lado da ruela de lama, se sagrava o homem que, porém, não compactuaria com aquela atitude e não a deixaria em revelia. Apuntava de fronte pra Bocha do Guedez, naquele mesmo instante, a tropa que alguns anos depois ia servir com o rebelde Gumercindo Saraiva nos Maragatos. Entre eles, um com lenço bandana rubro prendendo outra tropa só que essa era de gadelhas abaixo dum chapéu curvado couro legítimo, poncho vermelho, desce do cavalo com seu bigode tipicamente comprido, temido e muito falado por todo oeste: Leopoldo Fagundes. Seu olhar não procurava desvendar o ódio ungido que queimava em seu peito, foi logo calmamente se dirigindo para o cocho de água afim de lavar o rosto suado da cavalhada noturna enquanto Aderbal sigurava sua carabina garrucha em punhos.

Após secar o rosto num lenço tirado do colo, Fagundes questionou o que perante ele seria um réu: "Por que tu hombre clamaste por justiça? Que te sucedes pra ter sido injustiçado?". O bodegueiro já se botava mais adentro mas ainda assim se desbocava: "todos vagabundos, veja só que esse arruaceiro cocha, embrusquetado, apagou parte da pintura da minha entrada. Estou aqui tem uma semana e ninguém faz compra aqui. Não faço questão de me relacionar entre essas cabocladas dos matos e italianos pão-duros. Acredita que um desses orinundi veio na minha bodéga e disse 'oh tió, má tá tudo meio caro, dexemo quieto'. Falta de respeito comigo comerciante promissor dos Campos Gerais...". Sobretodos, a continuação de sua oratória se designava a procurar a compreensão do líder da tropa, mas, os olhares de tropeiro a tropeiro rodeavam a localidade procurando motivo para tanto alvoroço.

Um comentário:

  1. E eu queria descrever como você escreve. E quanto a virar comida de vermes, prefiro virar alimento deles, do que ser alimento da academia.

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