quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Filosofias do sertão: A mulher e a uva

foto retirada de um
dos parreirais de Mariópolis
Esse final de semana passei no parreiral do véio Arlindo em Nova Concórdia (Francisco Beltrão), arrancava as uvas com o meu canivete e chupava ali mesmo, logo perguntei ao gringo o que se ele sabia o que era uma mulher e ele logo respondeu sem exitar:

Iiiiih cara, todaa muié é como a uva. Tantas partes a compõe. Ela não é uma. Ela é o todo. Provarás um gomo e a quererás toda. A casca, o suco, a semente. O cacho todo. Quando é doce, azeda, ácida, amarga. Porque há mulher para todos os gostos. E uma só, tua, para todos os teus gostos.

Entre tantas estou a procura dessa uva até hoje...

inspirado em:
http://www.recantodasletras.com.br/

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Recortes de jornais

"A manhã vitoriosa, assim relato o fim daquela madrugada revoltosa. Raiava o dia no sertão paranaense, o sol se mirava entre as nuvens que a noite toda choveram e entre as araucárias em pé, algumas destoavam já denunciando o desmatamento e a derrubada praticada pelas serrarias vindas de Palmas. Em contrabalanço com a subida dos serreiros, nos cantos de uma picada que seguia para o morro do macaco se podia ver um rio de sangue que coagulava entre o barro. O saldo era esse, a batalha havia sido vencida por Ermelino Gutierrez Leãos, coronéis escrevem assim a História dos vencedores. E só podem escrever com linhas de sangue, tinta rubra usada dos cadáveres onde pássaros negros pousavam, esse era o luto daquele funeral a céu aberto. Mais uma História daquele sertão esquecido por tudo que há de Brasil leste-afora. Diziam que ali era o inferno, prefiro deifinir de outra forma: Fim de mundo".
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"Era interessante observar atentamente tal paisagem. As balas ricocheteavam entre os pinheiros que exalavam um odor parente do eucalipto. A primavera parecia não florescer algo semelhante a vida, os corpos caiam entre o campo, enquanto os bois fugiam para outras pastagens. A natureza se encontrava com o homem, quem tinha pernas dele fugia, o sangue cubria o verde, a morte cubria a vida com seu manto fúnebre. Um detalhe, permaneciam alguns, retiravam-se outros. Mas o mais interessante era o seu Zébedeu que dentro da patente cagava a vontade escutando o zunido das balas na propriedade vizinha ".
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"Vinha uma carroça lá do fundo, costeava o sol e o canto da estrada recém-cascalhada. A atenção de todos se colocava naquele horizonte, naquela peça de três tábuas amontoada de moscas. Era a carroça da carne vinda de União da Vitória. Parou na frente da praça pra fazer um verdadeiro despacho da sobra. Era o que havia restado, era o que havia ficado. Ossos que pareciam meio roídos se misturavam ao mocotó, uma carne bem mal-charqueada, mal-temperada e por isso podre, roxa, rodeada de larvas. Mas praquele povo parecia não fazer diferença, pois possivelmente muitos ali nunca tinham visto carne, por isso não se importavam nem com odor nem com aparência. Foi o dia em que fui convidado por 2 de cada 3 vizinhos pra comer uma sopa de brodo na casa de cada um. Me satifiz com um sanguique de salame".
(Clevelândia-PR, relatos de um jornalista vindo da capital da província, entre os dias 14 e 30-04-1901)