domingo, 29 de maio de 2011

Revolta e guerrilha do sertão (1957): O bem, o mau e o salameiro (capítulo I).

...seria simples dizer que esse sertão é adubado pelo sangue dos pioneiros. Mas nossa História não pode traçada de forma tão simples se não conter na tinta da caneta o sangue dos bugres, caboclos, gringos e dos “bágua véio”que vieram pra esses nos confins do sertão.

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A "civilização" do sertão aconteceria por meio da Clevelandia Industrial e Territorial Ltda (CITLA) que aparecia com um nome "ingrêis" pra entreter a fala de qualquer caboclo falador enquanto fumava paieiro, tomava chimarrão e cuspia no chão. Mas de tanta risada que o povo deu da tal de "CITRA", foram contratados pistoleiros pra dá cabo de qualquer "nego falador" e tomar-lhe as terras.

O discurso da jagunçada não era só racista, ele era entonado na madrugada quando esses chegavam nas casas, no momento em que o dono não estava, enquanto as mulheres dormiam sozinhas. O diabo fez das suas naquele sertão e infelizmente naquele momento não bastavam as novenas, precisava-se defender-se dos ataques dos representantes de um capitalismo que queria acabar com os colonos.


Francisco Beltrão - Agosto de 1957

Pontiava do oeste o sol amarelado na manhã do sertãozinho, o banhado ia perdendo a umidade, os girinos viravam uma "sapaiada" enquanto chegava uma tropeada na freguesia. Na frente, dois caboclo montados nos cavalos iam levando uma porcada pra União da Vitória, com uma lata cheia de milho cada um iam jogando punhados de grão e chamando os “baguá véio” (cachaços) do fim duma fila duns 300 porcos. Decidiram tomar um mate na bodega do véio Pegoraro que ficava na ponteira do Marrecas. Iam se achegando enquanto rolava um papo exclamado pela voz do italiano Arlindo enquanto bicava um salame no balcão recém-derrubado pelo salameiro Gildo.


-Na minha muié ninguém vai dá pau.

-Má home vétio, é o que tá rolando pra essas banda, ontem o Texerinha foi colhe milho e fico jogando prosa fora pos bugre no Morro do Urubu, voltô em casa a "muié" tinha levado uma camaçada duns home loco que pelo jeito eram de otros lado, jagunçada da tal de “CITRA”, disserô que se ele não assinasse uma papelada iam tacá fogo no paiol essa madrugada - insistia o véinho Barrichoca que relatava as agressões.

-Pare de história, isso é causo pra boi dormi, um baita home véio contando mintira aqui. Pegoraro marca essa pinga que nem vô mais perde tempo cum nego mintiroso desse...


Seu Arlindo saiu dali botando o chapéu e correndo tudo, trombando com tudo numa velha que esperava o marido que tinha acabado de entrar no Pegoraro pagar a conta do rancho do mês na bodega. Perante os outros, dentro da bodega, Arlindo parecia machão, mas na verdade tava escondido como de trás duma moita, se borrando tudo de medo, seu pensamento era tão fixo de voltar pra casa que saiu no pinote sem nem olhar pra trás pensando: “Máááá porco dio, ninguém vai bocha minha muié a pau, a não ser eu quando tô na razão lá no meu rancho”.


Barrichoca retrucava a ideia de Arlindo, gritando pro loco que já tinha armado a capa e já se bandiô em 5 pernaço na outra esquina:

-Não adianta gerar revolta aqui. Home, o chefão das tropa desses bágua é aposentado das tropa do governo, era Pica-Pau na Revolta Federalista e ajudo a "socá o farelo" nos Maragato (1893-1895), aquela "veiz", diz que ele até capô o saco dum delegado bago-roxo que havia se bandiado pro lado dos revolucionários lá no Rio Grande.


As histórias de Barrichoca atingiam fulminantemente a população, mas tem aquela né: “o lobisomem só é peludo e dentuço porque o povo conta”. E logo ali no sudoeste que os machão de bodega com um ou dois martelinho de cachaça já começam a “queimar um campo com chuva”, vai saber?! No fundo, no fundo, assim como Arlindo tinha muito macho borrando as calças de medo. E nesse cheiro fétido que saia dos fundilhos da machaiada que a História parecia ter traçado seu destino.


A História oficial registra o dia 10 de outubro como início dos conflitos. Ainda assim não registrou o que acontecia nas trincheiras, no silêncio do mato, o traço da caneta dos historiadores não registrou todas as pendengas entre os taquarais que beiravam as picadas e estradas do interior da antiga Marrecas, o “pau já tava comendo solto”.

Durante o mês do cachorro louco, verdadeiros guerrilheiros vigiavam o capoeirão, popularmente apelidados de Panteras e liderados pelo Capitão Fagundes, a tropa era formada por alguns sobreviventes das violências do Contestado (1912-1916):

O Nego Tiguera, caboclo miúdo, fumador de paiero, teve seu pai e mãe queimados vivos dentro duma patente que pelo acúmulo de matéria orgânica explodiu, tinha 12 anos na época e havia assistido tudo amarrado numa árvore com as costas em pele viva.

O índio Vatorim, tinha o pai curandor, presenciou a inauguração da estrada de ferro em Lages, seu velho foi amarrado nos trilhos que simbolizavam a modernidade enquanto o curandeirismo era apontado como o atraso do fanatismo da caboclada da região. Prefiro não relatar a História em detalhes.

O bugre Gumercindo Gacon, tinha a mãe uma índia linda de cabelos negros e lisos até o fim das costas, ela havia sido “pega a cachorro” pelo seu pai português e dali ele nasceu convivendo anos com os gritos da mãe que era violentada pelos jagunços da ferrovia, seu pai vivia bêbado numa bodega até o dia que sua mãe foi morta por um estuprador vulgo “Rasga-Lábio”, a pequena comunidade onde vivia noticiou o assassinato de filho contra pai, Gacon carregava no lombo não só as marcas das chibatadas recebidas num pelourinho antes de fugir de fugir de um galpão, mas também a desgraça de ter matado o próprio pai.

O gringo Bardoso, além de ter sua mãe morta com uma tabuada de chiqueiro na nuca, seu irmão de 7 anos ter sido solto num campão pelado totalmente para ser despedaçado e devorado por 12 cachorros de posse da jagunçada, carregava no corpo todo as marcas da Guerra Santa, fora pego numa tocaia e judiado com uma faca foi encontrado quase morto e todo ensanguentado por um lavrador horas depois.

Do outro lado, a jagunçada da CITLA era comandada pelo Sargento Bauco carregando no peito dezenas de medalhas conquistadas nas chacinas durante a Federalista. Aonde passou, deixou um verdadeiro rastro de morte em ruas banhadas de sangue onde corvos bicavam os olhos dos revoltosos que cruzaram seu caminho lá pras bandas do Rio Grande.


Fagundes, líder dos Panteras, discursava sobre esses que ele chamava de capitalistas financiados pelos países que tudo colonizaram e destruíram, Fagundes discursava na trincheira formada na sombra de imensas araucárias em frente a Estrada Pioneira da cidade, sorvando um mate que pelava a garganta:


"Deus não vai nos dar terra, Ele nos dá a coragem para lutar por ela, nós precisamos pelear contra aqueles que representam o sistema que acabou com tudo e agora quer acabar com as belezas desse nosso sertão de índios, caboclos e gringos, independente se somos bugres ou imigrados, precisamos nos unir. Pois, aqui, se cortarem a garganta de qualquer um, escorrerá um sangue vermelho semelhante ao de qualquer outro. Essa é nossa História e à ela dou valor e até morrer que nem cabrito esperneando vou defendê-la contra os interesses dos gananciosos desse outro sistema que nada a nos 'lograr' vendendo uma enxada para cavar a nossa própria cova. Não viemos aqui para morrer, não viemos aqui para matar, mas se precisarmos matar e morrer para garantir a paz desses campos, Lutaremos!!!".




segunda-feira, 16 de maio de 2011

“Os baguázão”: O conto da piazada da região nas rádio.

Após as contendas de Alceni Guerra, Viganó e Marcio Loko na rua, contam as lendas do que se falava do jovem na rádio da geração do século XXI... Informava o locutor às 9:00 da manhã na AM mais escutado da periferia pato-branquense, o rádinho a pilha da dona de casa jorrava sangue.


Não existem mendigos em nossa cidade, mas existe viado”. Foram essas as frases do jovem Davi Scarpetielli de Ferreira, vulgo “Ratão da favelinha”. Ao desferir golpes imitando personagens do jogo Tekken 3 que jogava no video-game do Apê da Catarinense, foi interceptado por um Mangueirino Bugre dos Mato das quebrada antes do Alagado popularmente intitulado “Gambá” em frente a Mali.


A comunidade São João Baptista reza o sepultamento desse jovem que caiu tastaviado sobre uma eternit, tentaram levar ele na arrumadera de osso do lado do véio Adão benzedor. Não se entendeu o motivo da desavença dos baita home que se “boliaram a pau”, a família pede justiça, se ela não aparecer em 24 horas eles prometeram subir o morro do Macaco “pra acertá os negócio”.


sábado, 14 de maio de 2011

O Chupim - o verdadeiro Gaúcho Pidão

1974

Diz que tinha um bagua véio de Chopinzinho, acostumado a pussucar os loco lá naquelas terras banhadas pelo rio Chopim. Mas ali não existiam guerrilheiros, nos baile o pessoal se debulhava de sapatiá de uma ponta a outra do salão fazendo um reboliço de gente.

Era tempo da ditadura, ali não existiam guerrilheiros, mas tinha loco que fazia uma guerrilha pra não pagar a entrada do baile pra poder sugar "dozotros" (dos outros).

Essa é a lição daquele que tá grudado na tua sola que nem carrapato. De bombacha emprestada, Chupim que é chupim, gosta de pedi o que qué depois o que tem. Chegou um deles no maloquero Guedes que sempre andava com os zóio que era uma "bala", andava com a piazada da "Esquadrilha da Fumaça":

Chupim: -Me dá um cigarro.

Guedes: -Má nem fumo (cigarro, né 4:20).

Chupim: -Então me empresta 5 pila.

Guedes: -Tô morto a pau, sem dinheiro.

Chupim: -Má que que tu tem no borço da camisa?

Guedes: -É colírio.
Pidão: -Então pinga duas gotinha aqui no meu zóio.

Um dia um gaúcho metido a "brigadô", combateu a prática do chamado “Chupim” (apelido para “pidão”): Trocou o colírio do Guedes por creolina. O baile terminou mais cedo porque a bala correu “sorta”, mas dizem que o “baile pra ser bão tem que morre uns 3”.

Esse conto foi um oferecimento da Lanchonete do Betão.
Garraio: -Má qual é o telefone da lanchonete do Betão.
Locutor: -O telefone da Lanchonete do Betão é 3224-trailer branco, do lado do Casamata.

domingo, 8 de maio de 2011

Somos Sertão, somos sudoeste...


Somos sudoeste,

que aqui chamavam sertão,

'má' não daquele agreste,

aqui tem salame, radite no no 'poun' (pão).


Sobre as araucárias,

os quero-quero não sobem galhos,

eu sinto ali as geadas,

com sabor de doces orvalhos,


nossas chinas são mais belas,

somos machos má dexamo,

caímos em desengano,

o inverno quero passar com uma delas,


nossos sonho brotam do ár,

num caíco no Chopim a velejar,

no Carletto, Ruzza, Bosi,

ou Chacará do Carcará,


no fogão a lenha,

um chimarrão,

não importa aqui quem venha,

no rancho sempre sirvo um vinho bão,


somos negri, italiani,

bugri e no futebol somos milhor,

nosso carção Nike paraguaio,

o chero dos bago é o maior,


no estádio metemo o rabo no banco,

e saímo de lá na mão,

cos loko de Pato Branco,

ou até cos de Beltrão,


corrimo de F 4000 moído,

se bandiemo e fumo pela 186 (um, oito, meia),

e saímo em Rincon Torcido,

peguemo 1 milhão de pexe pra Santa Sexta-Feira,


logramo uma véia bugra,

paremo taméim no Pantuio, (Pantulhos Bar)

saímo largando os trabuco,

corremo daqueles baguio,


esgualepado de perna entrevada,

vimos que elas eram cuca quente,

peguemo e sartamo na avoada,

chegamo no Inferninho e lá sim tinha gente,


somos do sertão do Paraná,

aqui falamo caspita, porco cane,

samo da cidade não samo mais colono

por isso não se engane,


se não samo mais interior também não samo gato,

porque do nossos lado a boca é quente

má tentemo saí do mato,

mas o mato não sai da gente.