quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O natal caboclo no Sudoeste Babilônia - O Historiador Andarilho

20 de dezembro de 2010.

São 3:43, duas banquinhas de dois bairros (gangs) se enfrentaram ali na rua Iguaçu... Lajotas foram quebradas são seu armamento bélico, vitrines despedaçadas, garrafas quebradas, nenhum alarme tocou, somente o que se escutavam eram os urros em altos decibéis dos habitantes de periferias de duas Pato Branco. O sangue caboclo se evidenciava na lua cheia.

Moradores do sertão, Pirata, Renanzinho, Xuxinha, Sakura, Magrinho Jones, Gordo BNH, Cara de Tilanga, antes eram anônimos agora vemos sua degladiação da janela de um apartamento. Os enfeites de natal contrastam com o clime de selvageria urbano, A REALIDADE. A Polícia não aparece, e o que seria chamado de impunidade penal ocorre, alguns psiquiatras chamam aquilo de "loucura coletiva", o não cessar do instinto em meio a tudo que a civilização esqueceu.

Civilização essa que é só de discurso, pois abandonou os direitos do cidadão como um mero documento. A destruição do "outro", chamado assim mas que também é morador de bairro, operário de médio padrão e que gosta de uma cervejinha nos fins de semana, os dois eram iguais mas foram incentivados pelo consumo a serem diferentes em suas roupas, carros para com isso conseguirem mais "gatas".

São esses os nossos meninos, um pouco distintos por evidenciarem a feição cabocla e "gringa" de bairros que são totalmente diferentes do centro. Eles negavam a oportunidade comprar o ideal de Jesus Cristo para si, aceitam uma única forma de amor que se transfigura naquele que é parecido com ele mesmo. Uns são "pretos de bairro", outros são "playboyzinhos branquelos", mas isso é mero discurso. Ambos foram jogados para a mesma coisa, para as mesmas dificuldades, entretanto uns se gavam, outros se menosprezam.

Se o sudoeste possui uma identidade, ela se esfacelava no seu próprio sangue. Somos vislumbrados nos programas policiais da TV local com o insucesso da criação, as mortes no trânsito e a vingança de um irmão morto. A periferia somente é lembrada nesses momentos, esquecida primeiramente pelo governo que nada governa a não ser a luz que vai para as árvores feitas de material reciclável.

A babilônia em chamas. Uma dessas árvores no seu verde plástico de garrafa de Soda Limonada queima em meio a praça, o desfecho da ilusão, fugimos de nossos instintos em favor de um Papai Noel Coca-Cola, quando nosso Papai Noel é um picolezeiro caboclo que entrega 36 presentes num orfanato, mas como ele não faz a barba e não toma banho não aparece na TV. Aqui não é Curitiba, mas pelo menos na esquina da maior loja de roupas da região é.

Vestidos nossos operários caboclos com a moda da vez. Levamos nossas filhas até a Boate para que seja despida pelo filho de um empresário e caso não queira se entregar a ele, a violência se torna inevitável. A periferia produz para a cidade "capital do sudoeste" peões durante o dia, a mesma TV que diz perseguir delinquência produz o discurso de que a indústria é o progresso. Jogamos nossa capacidade numa linha de produção, negamos sua criatividade e favor dos lucros que propagandeiam nossa "evolução social".

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os gringo de Mariopa: "Vai toma num ais de copa"

Diário do historiador andarilho: Mariópolis, 23/12/2010

A partir de um de meus estudos etnográficos pelo sudoeste do Paraná, não pude chegar ao destino que desejava. "O bugrinho Nino mora ali perto da cooperativa Camisc", ficou pra uma próxima vez, era fim de ano e esse homem que trabalhava com curas religiosas pelas xaropadas engarrafados não tava atendendo.

Nessa pegada, fui visitar um tio que me contou uma história:

"Certa veiz, uma muié da Vivo me ligo pedindo se eu queria entra numa promoção de bônus e botá 20 real de crédito pa ganhá umas promoção. Máááá eu peguei e falei: 'que promoçon, vá tomá num ais de copa'"

Enfim, ali a tecnologia não chegou como os grandes empresários almejavam. Numa outra oportunidade, esse mesmo tio recebeu uma ligação do Itaú:

"Que me fincá em otro tipo de conta, sendo que eu só recebia a aposentadoria, vavava home, peguei e falei pa muié: 'eu vô chamá tudo na justiça, seus vadio, vão trabaia'".

Era fim de ano, ele logo me convidou pra carnear um porco assarmos uma carne.
Um abraço tio, obrigado pelo churrasco, FELIZ ANO NOVO.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Diário Gaudério: Um chimarrão e um pau véio lá pras bandas de "Parmas"


Agosto de 1920, 17:00 da tarde
transcrição de Baldo Martins, gaúcho que trabalhou na Estância Fortaleza, contando de uma de suas tropeadas pelo sertão do Paraná.

Camperiando lá pras banda de Parma (Palmas) no Paranazão véio, bem pra lááá dos Campo de Gorpa (Guarapuava) fizemos um trampo na Estância São Pedro, muito próximo dum lageado guapo que cobria um campão que mais parecia um pampa cortado pelos ventos minuano. Meu sonho de guri era ser dono de uma dessas cocheadas, dessas que tinham mais de 200 cabeça de gado, uma grande sede, um chiqueroun (chiquerão) e umas galinha sendo tratada por uma china beeem da boa.

Mas inda sô um pião, capinando mato dozotros (dos outros), tomando pinga de mentruz pra cura os 'zintestino' e aquecê o lombo, crioulo de galpão que troteia várias lidas.

Um vento que parecia formar uma invernada, "os céu" se fechavam numa grande nuvem que cobria tudo, a noite viria mais cedo. Essa era a Parmas que todo mundo falava lá pro sul. Se "fechemo" (fechamos) numa roda em vorta do fogo pra trás duma campina, uns 3 peão da fazenda.

Numa roda conheci o caseiro da estância, seu Amadeo, italiano metido a gaúcho meio mancebo quis servi um chimarrão botando uma erva meio tastaviada amarelada parecida argentina, se cuspia tudo enquanto contava umas piada sem graça e racista sobre a caboclada que fugiu do Contestado e se bandiô lá pros lado de Bom Retiro. Eu só deduzia os assunto e não me agradava, fio de índio véio do mato comecei a me ofender, mas só fui levando por estar em casa alheia, já tava possesso por "dreento" com sangue no zóio, má tava mantendo a pose de matcho gaudério de perna cruzadota por fora...

Continuava o gringo mal cevando aquele mate, o que me dava mais raiva, por ver um mancebo se julgando perfeito e falando mal dozotros. Quando me passou a cuia e disse: "Vai lá gauchão, esse é o verdadeiro chimarrão do sul". Na hora que peguei na cuia, botei os beiço na bomba fria me desgostei duuum jeito que voeeei no pescoço daquele gaúcho falsificado, quando o home me cai pra trás já puxei o revorve e dei uma coronhada num peãozão que vinha por trás.

Virei num chinês, tirei um chicote de lida e já estoletiei a cara dum bugre que vinha na minha cola, ergueu o poerão e eu ia chingando o metido caseiro, soco, chute, cintada, o pau pegô bonito que o fio apanho e a mãe nem viu. Moi a pau os doze numa pegada e pulei encima dum potrô dando três tiro pra cima e gritando: "Aqui é Farrapo de verdade, não tem diabaria nem piazagem, ergo tudo no laço otra veiz"...

A peleia tinha sido bunita, avoei nos loco que nem mula chucra, larguei tudo os jaguara gemendo moído no chão...

Sai campinando um trecho sem nem querer saber se iam me pagar. Peguei um pelego, uma gorpeada livre de cachaça de mentruz e saí me bandeando pros mato que lá sim é território de todos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O pay-bang Vitorino e suas mulheres conhecem o "Baxinho": O "butim" nos Campos de Palmas (inspirado em documentos históricos)


14 de dezembro de 1852.

"Nem tudo era quebra pau, pelas andanças desse rincão, um nanico chega ao sertão dos Campos de Bituruna (Palmas) para realizar um butim (escambo, troca de especiarias por mão de obra e favores indígenas)"...

Tropeiro da lida, encargado em uma mula, esse pequeno homem trazia as chamadas especiarias vindas direto do Rio Grande, um rapazote fedendo salame mas que parecia embutido de uma "missão civilizadora".
Essas eram suas palavras, há alguns anos havia participado da catequese e do aldeamento de Nonohai (norte do Rio Grande), conheceu lá todos os caciques e todos os índios e principalmente índias, logo foi apelidado de "Gringo das bugra"...

Seu intento era descobrir o paradeiro de Vitorino Condá, esse por sua intenta logo foi flagrado no mato junto com duas índias esbeltas com lindos seios a mostra. Embaixo do pelego do cavalo, ao lado do estribo, ele foi tirando vestidos e mantas, ao mesmo tempo que foi se desvincilhando de sua guaiaca e se sentindo mais a vontade, baixando também sua minúscula bombacha, ficando só com um pequeno lenço que servia-lhe de zorba. Sua vontade era estar peladão peladão, já que todos que pelo lado do rio passavam e avistavam sua "vontade em pé".

Vontade essa que parecia pequena, mas não é o que se pode dizer internamente. Logo mãos e pernas se encontravam num pequeno capão em volta do rio, as mulheres terminaram suas carícias e logo entraram no rio se banhar, o Gringo se negou por não ser muito chegado nem nos chamados "banhos tchecos".

A visita foi rápida, logo após o banho as moças passaram um bom óleo natureba extraído de um cacete do mato pelo corpo e colocaram os vestidos que ganharam.

Assim caminhava a civilização dos Campos, mulheres já adornadas de panos feitos de cânhamo, embuchadas (grávidas) pelo prazer e pela sua inocência. Essa lenda corre as bocas e ouvidos do sudoeste paranaense até hoje, dizem que dali é feita as populações que habitariam aqueles Campos até o oeste de Baracão, daquele jeito de uma mescla da melhor origem da matriz Kaingang com os primeiros tropeiros que aportavam naqueles rincões.

Histórias como essas fizeram vários do mestiços que vivem em nossa região, descendentes de índios com o fator branco, elas possuem um lema um pouco machista e racista criado pelo véio Bauco de Laranjeiras (1945-1998): "Bugra do mato, se vende por ropa, se vende por carro".

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O leve sopro do PCP sobre os trabalhadores e vadios dos cafundós de Palmas (1917)

"Somos minoria, sabemos, mas ousamos escrever a própria História entre tantos que perseguidos já foram. Em justiça aos que se foram e em contato com os que virão, somos a força do trabalhador explorado nessas candeias onde pinheiros caem sobre os membros de nossa força de trabalho".


Outubro de 1917

Nota do Partido Comunista do Paraná colada na porta da Matriz da Igreja Bom Jesus. Organizava-se uma frente popular entre os trabalhadores em 1917 em Palmas?

A tocaia da estrada Guara evidencia a perseguição ao "grupelho" que fundou um partido de extrema-esquerda em Palmas. O dono de uma caminhonete havia dado uma carona por uma picada escondida a um dos quatro membros desse partido, índios, gringos, sertanejos e todo um tipo de gente passou falando sobre a chamada: "Revolução".

Inspirado numa literatura recém-chegada ao sul do Brasil e acompanhando as últimas da Revolução Russa, esse personagem abandonado pela História produziu o "Manifesto Campesino dos Campos de Palmas", com o objetivo de entregá-lo nas mãos do jornalista e historiador Romário Martins. Falava ele dos madeireiros explorados pelo julgo dos coronéis, das sangrentas guerrilhas de farrapos derrotados, do esquecimento político por parte de Curytiba. Seu pseudônimo todos conheciam, Polaco Tião.

Exaltando sua utopia, denunciava as "formas arcaicas desse capitalismo arcaico mesclado com um tom de medievalismo dessacralizado" - o coronelismo e os madeireiros eram seus principais inimigos. Poucos entendiam, alguns eram fugitivos do Contestado, criminosos, uma vez um senhor de idade olhou calmamente em seus olhos e disse: "meu fio, não adianta nada" e complementou levantando dum cepo a todo fervor pulando numa parede e gritando: "aquiiiii é tudo um vadiozedo do demonhooooo".

Segundo relatos de um confidente amigo de copo de Tião: "ele era um audaz jovem rapazito guri cheio 'das ideologia', mas não sei por alopração de candango ou se porque eram tudo uns povo madracero, ele não convenceu ninguém de suas loucuras" (sic!). Disse um medidos de terras: "A real é que essa peonada só gostava de ver os boi pastá".

Os outros membros, mais moderados não foram revelados nem encontrados. Cederam ao poder dos exploradores, fizeram silêncio e deixaram o curso da História ser guiado pelos vencedores.