sábado, 17 de dezembro de 2011

O Apocalipse do Sertão - Quarta Porteira: Resistência (Diário de bordo - quarta parte)

Ponta Grossa, 17 de junho de 2008


-"Me perdoe, grande latifundiário da cidade se minha presença lhe agride tanto".

Em meio a chuva ele gritava isso a um velho que estava de botas fumando charuto e tendo os sapatos engraxados por um guri. E sua ironia indignava mais ainda aquele "senhor de terras" dos Campos Gerais que parecia ter se arrependido de ter pronunciado aquelas duas palavras: "cabeludo viado".

Camiseta xadrez, cabelo comprido, calça rasgada... Meses foram o suficiente para aquele rapaz ingênuo do interior do Paraná  enfrentar os mandos e desmandos da "cidade grande".


Se adaptar? Juntamente de seu fiel companheiro Tenor que cantava ópera pelas ruas da cidade e falava italiano ele não se sentia capaz disso, mas sim de interferir e transformar! 

O sistema o abominava, os valores estavam mudados e toda simplicidade da vida foi trocada por um jogo de interesses. Hoje, escutando o barulho da água que cai lá do alto, tudo passa a fazer sentido.



Coronel Vivida - 17 de dezembro de 2011, 16:07
tocando "Bicho do Paraná"
no Vargas
Eu o vejo! Antes desse grande fim, da catástrofe anunciada e prevista alguém viveu dando a outra face e reencarna carregado de feridas e chagas na alma.


Sua dor é tão grande que ele apenas tem uma alternativa. Fugir!


Longe dos "grandes" centros, com "grandes" pessoas e suas "grandes" importâncias.

Um cara como qualquer outro, mas que ao invés de abrir sorrisos pra qualquer um mandava tudo "se foder" e fazia cara feia em público.


Os matos eram explorados e ali ele dizia achar um novo sentido para o seu EU.

Uma viagem psicológica e psicotrópica. Ele buscava o que chamava de "uma pira verdadeira" e procurava refletir isso no estilo de música e na sua forma de se vestir. 

E, de repente, foi alvo de indignação, pois mesmo querendo pegar as cavalas do sertanejo universitário não conseguia se aproximar delas pagando "gole" e botando "banca", ele buscava nas mulheres o sentimento.

Odiava roupas novas, pois se apegava a suas vestes antigas e até mesmo rasgadas.

Percebeu que a forma de pensamento dominante na sua época era enrrustida de dos preconceitos enlatados de 30 anos atrás, do desenvolvimento tecno-facista. Pois via os miseráveis defendendo aqueles que geravam sua miséria

Fugia, simplesmente isso, sendo um pequeno burguês aproveitava o que o mínimo que o sistema lhe oferecia, não conseguia servir ao capital e em alguns momentos se sentiu incapaz de arrumar companhia por conta disso.

Um dia depois de um bico numa cachoeira soltou expotaneamente um berro: EU SOU UM PIÁ!

Mas ele não é nosso herói, é talvez um louco, um pseudo-esquerdista metidpo a revoltado, a maior fraude comunista-hippie-beatnik esfacelada e materializada no corpo de um pequeno-burguês vestido que queria ter nascido mendigo. 

Seu fim se deu num campo de flores, durante a primavera. Não foi ele quem criou a contra-mola que traria primavera segurada entre os seus dentes!


Sepultou os seus sentimentos negativos em meio a toda destruição daquele Apocalipse, ele renascia.


Intoxicado pela doçura da vida que era o néctas daquela estação. Ele sempre volta enxer o saco com suas "baboseiras ideológicas", mostrando que foi o padeiro que vendeu os melhores sonhos, foi o bodegueiro que não cobrava fiado, foi nadador de rios e cachoeiras, foi admirador dos beija-flores e borboletas, foi o violeiro nos bares dos velhos boêmios, foi proseador e chimarrãozeador entre as tiazonas velhas, foi o mais servil amante e fui sobretudo o maior cozinheiro de Genghis-Khan dum acampamento qualquer que não lembro onde foi...

O profeta dessa Apocalipse não era um monge budista capacitado por seu interior. No ronco dos motores sua meditação era o Rock n'Roll que bradava acompanhando o ritmo dos rios e a queda das cachoeiras que caíam como suas lágrimas ao produzir essas palavras.

Ele era a RESISTÊNCIA e o SERTÃO era seu aconchego, já que todas as vezes que voltava pra cidade era chamado de BICHO DO MATO.