quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Uma casa por cima da outra: O tornado de Rincão Torcido

por Fabiano Marangon, o Morangão*

Em 14 de agosto de 1959, fazendeiros do Sudoeste viveram horas de pânico com a passagem de um tornado que deixou ao menos 35 mortos. 

foto do dia do tornado, comunidade reduzida a escombros, os corpos das vitimas sendo velados e ainda da localidade hoje.
O vento começou a soprar repentinamente naquela sexta-feira, na Fazenda Fortaleza, que fica a cerca de 30 km do centro de Palmas, mulheres tiravam as roupas do varal, colocavam no cesto e prestavam atenção em uma enorme formação de nuvens escuras que se aproximava. O barulho era ensurdecedor. Não eram trovoadas comuns, fazia um barulho estranho, acho que era o furacão que vinha na direção do povoado.

Mais de meio século depois, ainda é difícil para os sobreviventes falarem sobre uma das maiores tragédias naturais que se abateu sobre a região. Por volta das 16h30 daquele dia, a velocidade do vento aumentou. Seguiu-se uma chuva de granizo. Os moradores se esconderam em suas casas. Cerca de duas horas depois, a natureza mostrou toda a sua fúria, com ventos que superaram os 200 km/h. É como se aquele vilarejo tivesse sido varrido.

Até hoje os moradores do local não sabem ao certo o que os atingiu. Suspeitam de que tenha sido um tornado. Casas foram destruídas, pessoas jogadas dezenas de metros longe de suas moradias, árvores arrancadas pelas raízes e rebanhos inteiros de gado foram dizimados.

Na Fazenda Fortaleza foram registradas 35 mortes, mas nas propriedades vizinhas nada aconteceu. Nas terras de José Antônio de Araújo Maciel, o Tuta, havia uma serraria, a Santo Antônio, 12 casas e alguns galpões. As famílias que moravam ali dependiam economicamente do comércio da madeira e foram afetadas pela tragédia.

LEMBRANÇA
A tragédia provocou uma forte comoção na região de Palmas. Todas as vítimas foram veladas no ginásio municipal e o cortejo fúnebre reuniu centenas de pessoas. Os principais jornais da época noticiaram o fenômeno. O enviado especial da Gazeta do Povo, Moacyr Mitsuyasu, relatou em matéria publicada no dia 16 de agosto de 1959, que o fenômeno climático havia atingido uma faixa de terras de dois quilômetros. “Dezenas de tábuas estavam espalhas, casas caídas, pinheiros arrancados pelas raízes. Um locomóvel [espécie de trator movido a vapor usado para movimentar cargas pesadas] de uma serraria, pesando cerca de 5 mil quilos, foi deslocado uns 40 metros de distância”, observou em trecho da reportagem.

Cinco anos depois da tragédia, celebrações religiosas ainda eram realizadas em memória das vítimas. O jornalista Luiz Carlos Bitencourt, natural de Palmas, diz que cresceu ouvindo histórias sobre a catástrofe. “Sempre se falava da dor dessas famílias, que nunca foi superada”, relata.

lora Tonial, hoje com 78 anos, conta que estava ao lado da mãe e dos irmãos, passando roupa, quando o tornado finalmente chegou sobre a casa da família.
“A finada mãe me disse: ‘Segure a porta que não vai ser nada’. Ela ficou sentada ao lado do fogão e eu fui fechar a porta. Quando cheguei perto, desceu tudo. Não vi mais nada. Meia hora depois, acordei e vi que a casa do meu irmão tinha vindo em cima da nossa”, relembra. Na tragédia, ela perdeu a mãe, um sobrinho e uma tia. O pai estava viajando a trabalho.
Depois da ventania os sobreviventes começaram se reunir, ainda atordoados, para procurar quem tinha desaparecido.

Socorro

“A dona da fazenda (Aparecida Maciel) chegou pedindo socorro. Estava com o piá mais novo e com um enorme ferimento no quadril. Era um desespero só, morreram o outro filho dela e a empregada que cuidava das crianças. Recolhemos também dois rapazes que trabalhavam na serraria, mas não resistiram aos ferimentos”, conta Flora.

*Morangão, sonoplasta na Rádio Celinauta e apavorando também na TV Sudoeste de vez em quando, conhecido na cena do Metal e do Róquipaulêra de Pato, ainda arruma tempo pra correr como maratonista e tale coisa em grandes eventos de corrida. Mas esse piá é criado nos calçamento e nas estrada de chão, contra a poeira sempre mostrando superação será convidado a ser correspondente na volta desse blog que tava mais largado que estância de viúva.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

sertão news: Silicone e crime ambiental no IAPÊ e outras presepadas

PLANTÃO URGENTE!!!


"Agora que já moeram as froresta, vamo pegá os pila e torrá
cas loka no ViraBoiola (boate sertanoja) enquanto escuitemo
um Bruno e Marrone e as muié dançam no pau
só de tanguinha"
(grampo telefônico tirado do IAPÊ).

ligue os fatos: o cara pago silicone pra guria ir no "ViraBoiola" (boate sertanoja) com o dinheiro que tinha ganhado pra libera-geral nos licenciamento. Liberou um punhado de licenciamento pros cara derrubar as árvores e pelar toda região, dai os pelego podiam construir loteamentos e o escambal. Esse cara era o chefe do IAPÊ!O instituto responsável por cuidar da mata de araucárias no sertão do Paraná. Só isso!


Em nota: Pra varrer as merda de gralha pra baixo do tapete, o Governador Piá de Prédio, que foi eleito com a ajuda dos três chefões do IAPÊ, disse que vai remanejar os mesmos funcionários que ele enfiou no Instituto e pagar-lhes um curso de "como fazer as coisas direito" com políticos experientes de Brasília.

***Lembrando que essa semana estávamos falando de tais crimes ambientais.

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Começa semana que vem a colheita do pinhão, isso se sobrou alguma araucária no nosso querido amado estado que tem essa árvore como seu símbolo. E aí Tigre, que que vai fazê aí?!


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Os maiores migués dos últimos tempos (especial de 1o. de Abril)

O primeiro que tentar ligar na redação passando o migué será respondido com um "TRUCO,
Os piá de prédio, sem ofensa, que vão
derretê nos posto dizem que esse é o melhor
energético. Para Nego Barrichora "é uma pinóia,
 pelego que pendura as propaganda dessa tranqueira
nas árvore é que é um baita dum leitão"
SEIS NESSE FACÃO".

"Apreensão de drogas no Sudoeste"

Sim sim, os DENARC tão pegando só os trafica com maconha. Segundo Polaco da Baxada "a maconherada reclamando que tá difícil de achar um do 'bão', enquanto isso pedra tem até no vendedor de churrasquinho ali da esquina e os piá andam xerando até pó de reboco em cima das viatura dos home".

"Vândalos incendeiam a Prefeitura de Pato Branco e fazem a maior diabaria"

De certo que eu sô loko de caí nesse aplique de cercá Lourenço? Quando fizeram aqueles loteamento, fizeram também um monte de presepada, crime ambiental e diabaria, tava tudo registrado nos papéles e documentos que foram queimados. Coincidência!? Diz o jornaleto: "a polícia investiga o caso" TIUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!! 4 meses e nada dos culpados.

"Governador PIÁ DE PRÉDIO RICHA, 73% de aprovação"

Tá bão, o piazão de prédio querendo dá uma de migué. Só pode que a pesquisa foi feita en formaturas e bailes de debutantes nos clube "burguêis" do Paranázão véio.

"Gilmar Reolon - Estuprador do Sertão e diabaria"

Muito cabra na imprensa tentando fincá umas forte, chamando o cara de estrupador e diabarizando a imagem do cara. Nada provado até o momento. A verdade mesmo é que o cara emagreceu os bucho depois de ficar 3 anos no mato.

"Nitrix - o melhor energético, segundo os piá de prédio".

É o caraio. Nossa redação flagrou uma série de propagandas plastificadas em árvores por todo Vale do Chopim, um verdadeiro crime ambiental. Dizem que é usa esse baguio que no outro dia o teu vaso vira num rebosteio. Boicote a essa tranqueira! Tome Caldo de Cana.

"O cabelo do piá fico baguá" (veja o vídeo e chore)

Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuuuu!!! Tomanozóio. Como diria a nona "caipira é caipira e malandro é malandro".




***NENHUMA AFIRMAÇÃO AQUI TEM A INTENÇÃO DE OFENDER NEM QUEBRAR O PAU COM NINGUÉM, SE NÃO GOSTÔ ENTRE EM CONTATO COM NOSSA REDAÇÃO OU "CHERÊMEUZOVO"


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Mato ou morro: o curioso caso do sanguinolento eremita Gilmar Reolon

Por Leandro Czerniaski - correspondente dos barranco do Marrecas

No meio da floresta, uma barraca impovisada com lona e pedaços de pau. Assim como o fogão. Em roda, algumas frutas, milho verde, água em garrafas e a solidão – mal do século, segundo o poeta. O ambiente em que vivia o criminoso mais procurado do Sertão faz-nos perder na localização geográfica e temporal.

Bicho-do-mato do tempo antigo
exibe o tateto e a espingarda, daquelas
de socá pólvora (Foto: Júlio Oldin)
O caso lembra outros do tempo antigo, quando o mato do Sudoeste abrigava foragidos da justiça. Nesse tempo pré-colonização, muito bandido fora da lei fixou residência em qualquer tapera onde fosse possível viver pro gasto sem ser incomodado.

Nos idos de 1940 e tanto, um desses foragidos foi encontrado no mato e pelo seo Carlos Oliveira, que abriu as primeiras picadas de Pato Branco até a fronteira. E Carlinhos descreveu ao seo Jorge Baleeiro como o sujeito se mantinha dentre a floresta:

“Só de favo de mel tinha, numa gamela, bem uns dez. Era parte do alimento daquele caboclo. Dependurado, como se fosse um socol, uma banda de tatu e um pedaço de capivara moqueado. Era um verdadeiro homem-do-mato. A conversa toda girava em torno de caçada, disso e daquilo, principalmente de tateto. Falava também em onça rondando sua cabana. Às vezes mantinha um tateto amarrado numa corda. Quando desejava ter carne para mais tempo, salgava a caça e deixava secar”.

A mesma opção fez Reolon, mais de 60 anos depois. Não obtendo sucesso na tentativa de matar a sí próprio, depois de tirar a vida da família, optou por viver como foragido entre as árvores e o pouco que resta de animais. Virou um legítimo bicho-do-mato e incorporou o sertão – que é um jeito de ser, uma espécie de estado de espírito – vivendo longe das solicitações de jogos do Feiceibúque e dos palestrantes motivacionais. 

O bicho-do-mato do século XXI:
o sertão continua sendo esconderijo de
foragidos (Foto: Site Notícias Policiais)
Talvez pela carência de bichos na mata em que vivia, Reolon, na vanguarda do neocaboclismo, se viu obrigado a atacar nos potreiros vizinhos da sua grande macega e acrescentou mais 16 mortes à sua conta. Fiado que o bodegueiro marcou na caderneta, junto às outras seis de gente. E que foram devidamente cobradas na manhã desta sexta-feira. Agora, serão pagas pelo método judicial de acertar contas: o privando da liberdade.

A história desse “sanguinolento assassino” – como noticiaria a imprensa de antigamente, em letras garrafais – é um curioso caso de estudo antropológico, psiquiátrico e o diabo a quatro. Viveu três anos integrado à natureza, agora, pelo contrário, dormirá sobre o concreto. Mas, advertiria Guimarães Rosa, o sertão está em toda parte. 

"Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso"
Guimarães Rosa

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Apocalipse no Sertão - A sexta porteira: O xuxuzal sangrento

"Get your motor running
Head out on the highway
Looking for adventure
In whatever comes our way"
("Born to be wild" - Steppenwolf)
 

"pagando de gatão"
momentos antes do acidente
No calçamento dando pau de moto a 60 por hora, até que vejo atravessando pela estrada um tatu, alguns 40 centímetros de casca dura nas suas costas me fizeram muito admirar aquela delicada estrutura, resistente forma de vida entre os avanços das roças de soja e milho junto de seus pesticidas e fertilizantes... Minha reflexão sobre a casca do tatu foi tanta que só a finalizei quando já havia caído num barrau do outro lado da estrada, arrastado 10 metros na pura lama do Sertão do Paraná enquanto a moto havia fincado num xuxuzal - foi o tal xuxuzal bendito que impediu que a moto caísse numa das sangas do rio Veado.

Meu corpo havia tastaviado com a queda, todo embarrado e esfolado no braço esquerdo, tava viraaaaado em praga... Levantei-me para tentar erguer a moto e seguir viagem... Senti meu ombro, do lado da clavícola, mais precisamente o osso da saboneteira. Meti a moto em ponto morto e fui até a casa de um colono pedir socorro, não teve nem conversa, o gringo logo se fincou ligar pra ambulância. Chegando em Pato Branco, o médico me fincou uma faixa e mandou respousar, lembro que naquela noite a dor me impediu de pregar o olho.

Mas não deu outra, no outro dia cedo me boliei atrás da mais conhecida arrumadeira de osso da região: a cabocla Dona Pretinha. Chegando lá, me esperava uma senhora baixinha com as mãos enrrugadas, enquanto terminava de atender uma família necessitada de alimento e roupas. Adentrei sua sala de massagens, logo que enconstou no meu osso, grelhei os zóio imaginando que a dor aumentaria constantemente, entretanto, no primeiro toque de suas sensíveis mãos minha ossada foi entrando no lugar. Cléct, cléct... sua massagem com folhas mentoladas e arnica me fez viajar mais uma vez...

Lembro que me sentia privilegiado, milhares de anos de conhecimentos vindos da terra, dos povos antepassados que viviam em terras ancestrais e que agora podiam ser depositados na minha saboneteira. Pretinha conhecia todas as articulações, nervos, ligações que faziam parte do corpo humano. Sua cura não veio como algo complexo e institucionalizado, mas sim de maneira simples, de quem não saberia também fazer de outra maneira que não fosse pelo querer ajudar. Mais uma vez, em mais um episódio de minha vida me coloquei como mero aprendiz do mundo véio,  pois seja na pequena mas resistente casca de um tatu, num xuxuzal esquecido mas forte na beira de estrada ou nas mãos simples mas sábias de uma cabocla idosa que está aquilo que foge à busca pela perfeição, nos torna mais reais e mais simples de coração.

Nunca valorizei tanto uma sopa de xuxu depois daquele dia!!!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Os quero-quero apocalípticos

Num campo com meia dúzia de araucárias, em pleno centro de Beltrão, ouvem-se gritos. 

Não são de gente, mas de protesto. Estavam eles anunciando o fim do mundo?

Gritos de bicho, sufocados pelo barulho dos motores. Mas que entre um rasante e outro sobre as patrolas mostram que a natureza resiste à supremacia da civilização e tentam, quem sabe, dizer que já fomos longe de mais.

Ou talvez fosse só o tempo pra chuva.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Toração de Pau: O acidente do lenheiro de Clevelândia (Arquivo Digital do Sertão do Paraná)

Clevelândia, PR - alguma tarde de 1979

Um acidente marcou aquela tarde e fez com que se reunisse uma "muntuera" de nego. Mas pense num punhado de gente. Um Maveco 6 caneco fez a curva na frente da Serraria no pau! Se fincô pra cima da carroça de Arduíno Pocai, o lenheiro daquelas bandas. O acidente resultou na morte do seu casal de mulas, que precisaram ser sacrificadas pois quebraram as patas dianteiras.






A morte das mulas significou um alerta a família Pocai que sobrevivia do corte de lenha. O pessoal prensou o motorista na xinxa e logo depois ele pagou pelas mulas.





Pareceu o encontro de dois mundos, de um lado o velho com o trabalho rústico e de outro o avanço da mecânica nas mãos de um piazão que dirigia aquela máquina envenenada pelas ruas de Cleveland.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

sertão news: O homem que desmascarou o chupa-cabra da Linha Triton

05 de dezembro de 2012, Plantão de última hora!!!

Por Leandro Czerniaski - correspondente da beirada do Rio Marrecas


Passado da meia noite. Tempo armado pra chuva, vento uivante e alguns relâmpagos. No sítio de Nego Várdo, o gado se assusta e corre no potreiro. Seu proprietário, bom entendedor dos assuntos relativos à chupacabrisse – e todas suas artimanhas, corre buscar a cano duplo guardada no sótão, não esquece das balas de cobre, atiça os cachorros e corre dentre uma macega na direção contrária do gado. 

Várdo vê os vultos dentre os pingos de chuva. A respiração acelera, o passo diminui e os perdigueiros se intimidam e voltam. Sozinho, se posiciona para o tiro certeiro no escuro; só ouve o mugir de uma de suas vacas e cai desmaiado. É encontrado somente na manhã seguinte. Próximo dele, a carcaça de um bovino pela metade.

A reconstituição acima foi feito a partir do relato do próprio Nego Várdo, morador antigo da Linha Triton, um reduto gringo-polaquês no interior de Francisco Beltrão onde, nos últimos meses, animais vêm sendo misteriosamente atacados.

Nego Várdo exibe dois gansos encontrados mortos e esvaídos 
Já passaram de dez as vacas encontradas mortas nas redondezas, além de gansos e porcos. Em todos os casos, uma semelhança: os animais foram atacados pela traseira, tiveram o sangue esvaído e foram levados somente os órgãos. 

“Tu acha que um hóme faz isso? É coisa daquele djãnho véio que vem comê as criação da gente”, sentencia Várdo, ainda sujo de barro da noite anterior, enquanto campeia a cano duplo que herdara de seu pai, junto com o conhecimento aprofundado em chupa-cabras e similares.

Predador misterioso e de morfologia incomum, o chupa-cabra age na calada da noite. Silencioso, agente de ataques insólitos, vitima pela sua habilidade seletiva e intrigante capacidade de hipnotizar suas presas.

Descrente na ação da polícia, que já planeja uma força tarefa para capturar o dito-cujo, Nego Várdo acusa ser Waldomiro Casagrande, latifundiário bem sucedido, o tal do chupa-cabra. “Aquele desgranhento logrou tudo nóis, que obrigou a gente a assiná uns documento que tinha que entregá as terra e agora ele que atropelá nóis daqui assustando a gente”, denuncia Nego à nossa reportagem, se referindo ao aval que o coronel dera para a aquisição de sementes de milho safrinha, que carunchou todas as espigas. 

De fato, coronel Casagrande possui todas as características necessárias a um chupa-cabra que se transfigura em gente – baixa estatura, fala fina, a pupila vermelha e pouco caráter. Mas nem por isso a versão oficial dos acontecimentos diurnos e noturnos permitia tal afirmação. 

Pela tarde, vários veículos de imprensa, curiosos e pseudo-ufólogos estavam na propriedade colhendo informações e analisando a carcaça do animal. No fim do dia, querendo se aproveitar da movimentação para reivindicar o que por direito lhe pertencia e mesmo mancando da perna direita, até coronel Casagrande apareceu por lá. Levou os documentos com o polegar de Nego Várdo em assinatura e chegou fazendo alvoroço entre as autoridades.

Nego Várdo, diplomado na faculdade da astúcia cabocla, de vereda teve uma dessas ideias que só um bom conhecedor de chupa-cabras seria capaz de arquitetar. Aproveitou a presença do juiz e do prefeito na propriedade e rebateu o coronel sugerindo que ali mesmo fosse resolvida a questão, num julgamento em que se contraporiam as teses de um e de outro.

Plateia posta. O juiz sentou num toco de amburana em frente a casa, Nego de um lado e o coronel de outro. Este, iniciando a sessão do júri, mostrou a documentação que oficializava a negociação feita com o caboclo. Já era noite. Em sua defesa, Nego Várdo disse que tais documentos não tinham validade, haja vista as leis serem aplicáveis somente aos homens e ser o coronel um integrante da espécie chupa-cabra e não humana. Depois, discorreu sua história, a relação com o coronel e as provas (orais) de que o mesmo era o bicho ruim num discurso de mais de duas horas.

Onze e meia de noite e coronel Casagrande se perde nas falas, sua sem parar e olha para a lua – cheia. A plateia estava farta de tanto falatório, mas Nego Várdo enrola um pouco mais e a cada pouco olha o relógio. Já era quase meia noite e a cada minuto aumentava a agonia do coronel, que andava de um lado ao outro mancando, provavelmente havia levado um tiro na noite anterior. “Eu quero provas do que me acusas; por enquanto só falou que sou o chupa-cabra, mas não provou nada”, dizia ao Nego Várdo.

A plateia, o juiz e o prefeito ficaram mais por gostar da história que por acreditar no que dizia aquele caboclo. Onde já se viu, um homem ser o chupa-cabra, pensavam. Às 11h59, lua reluzindo no céu e a palavra com Nego Várdo, que conta os segundo para a meia noite no relógio e, no badalar do sino, aponta para seu carrasco dizendo que todos verão a prova do que disse.  Os olhos do coronel ficam mais vermelhos do que comumente. Dos dedos surgem garras, dos dentes, presas e a roupa se rasga enquanto crescem pelos por todo seu corpo. Urra tal qual um bicho selvagem e sai em disparada dentre a mata, assustando a maioria dos presentes, que também corre.

O juiz bate o martelo e sentencia ganho de causa para Nego Várdo.





Inspirado no recomendado livro “O Coronel e o Lobisomem”, de José Cândido de Carvalho.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Edição Sangrenta (especial) - 55 anos da Revolta dos Posseiros

Percorria entre os ouvidos nos corredores das Universidades o boato de uma fonte perdida da Revolta dos Posseiros, como se fosse um tal "Livro Negro da Revolta". Ano passado uma colega de faculdade na Unipar, Joseane Jokoski, me mostrou uma fonte, um pequeno caderno empoeirado, com alguns rasgos e meio tastaviado, virado em praga. Era ele, uma publicação de 1958, feita em papel rústico, portanto de difícil conservação

Dessa fonte preciosa extrai uma pesquisa que me rendeu minha dissertação de pós-graduação nesse ano. Como forma de retribuição a memória e a História estou digitalizando esse documento histórico que contém dois discursos do senador Othon Mader que denunciam as práticas violentas das companhias colonizadoras durante a década de 1950 contra os posseiros do sudoeste do Paraná assim como o descaso da polícia e do governo frente a tais abusos.

Espero que este documento sirva para muitas outras pesquisas e discussões. Segue aí: http://pt.scribd.com/doc/109745871/A-rebeliao-agraria-do-sudoeste-do-Parana-em-1957-A-dupla-responsabilidade-do-Sr-Moyses-Lupion

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

55 anos da Revolta dos Posseiros

Foi entre cachaças, salames defumados, fumos de corda dependurados nas bodegas que o povo do sudoeste escutava a Rádio Colméia na frequência 1520 Hz onde se denunciava as "marvadezas" praticadas pelas companhias colonizadoras que eram protegidas pelos governo Lupion. Casas eram queimadas, mulheres violentadas, uma criança foi jogada pra cima e espetada por uma adaga.

No meio do mato, farrapos como Pedro Santin e tantos outros anônimos se degladiavam entre faconaços e tiroteios no meio de valetas usadas como trincheiras contra os jagunços e criminosos vindos de diversos lugares do Brasil, Argentina e Paraguai.

Hoje, fazem 55 anos que o povo do sertão do Paraná tomou as ruas contra a violência dos jagunços e o descaso das autoridades policiais. O comércio foi fechado em protesto, documentos das companhias foram jogados pelas ruas e queimados e até o chefão da política estadual Pinheiro Junior teve de aceitar as exigências dos colonos.

A experiências desses homens e mulheres simples que impunharam carabinas para defender suas terras nos deixa uma lição de como defender a vida com força e honra.