terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Diário Gaudério: Um chimarrão e um pau véio lá pras bandas de "Parmas"


Agosto de 1920, 17:00 da tarde
transcrição de Baldo Martins, gaúcho que trabalhou na Estância Fortaleza, contando de uma de suas tropeadas pelo sertão do Paraná.

Camperiando lá pras banda de Parma (Palmas) no Paranazão véio, bem pra lááá dos Campo de Gorpa (Guarapuava) fizemos um trampo na Estância São Pedro, muito próximo dum lageado guapo que cobria um campão que mais parecia um pampa cortado pelos ventos minuano. Meu sonho de guri era ser dono de uma dessas cocheadas, dessas que tinham mais de 200 cabeça de gado, uma grande sede, um chiqueroun (chiquerão) e umas galinha sendo tratada por uma china beeem da boa.

Mas inda sô um pião, capinando mato dozotros (dos outros), tomando pinga de mentruz pra cura os 'zintestino' e aquecê o lombo, crioulo de galpão que troteia várias lidas.

Um vento que parecia formar uma invernada, "os céu" se fechavam numa grande nuvem que cobria tudo, a noite viria mais cedo. Essa era a Parmas que todo mundo falava lá pro sul. Se "fechemo" (fechamos) numa roda em vorta do fogo pra trás duma campina, uns 3 peão da fazenda.

Numa roda conheci o caseiro da estância, seu Amadeo, italiano metido a gaúcho meio mancebo quis servi um chimarrão botando uma erva meio tastaviada amarelada parecida argentina, se cuspia tudo enquanto contava umas piada sem graça e racista sobre a caboclada que fugiu do Contestado e se bandiô lá pros lado de Bom Retiro. Eu só deduzia os assunto e não me agradava, fio de índio véio do mato comecei a me ofender, mas só fui levando por estar em casa alheia, já tava possesso por "dreento" com sangue no zóio, má tava mantendo a pose de matcho gaudério de perna cruzadota por fora...

Continuava o gringo mal cevando aquele mate, o que me dava mais raiva, por ver um mancebo se julgando perfeito e falando mal dozotros. Quando me passou a cuia e disse: "Vai lá gauchão, esse é o verdadeiro chimarrão do sul". Na hora que peguei na cuia, botei os beiço na bomba fria me desgostei duuum jeito que voeeei no pescoço daquele gaúcho falsificado, quando o home me cai pra trás já puxei o revorve e dei uma coronhada num peãozão que vinha por trás.

Virei num chinês, tirei um chicote de lida e já estoletiei a cara dum bugre que vinha na minha cola, ergueu o poerão e eu ia chingando o metido caseiro, soco, chute, cintada, o pau pegô bonito que o fio apanho e a mãe nem viu. Moi a pau os doze numa pegada e pulei encima dum potrô dando três tiro pra cima e gritando: "Aqui é Farrapo de verdade, não tem diabaria nem piazagem, ergo tudo no laço otra veiz"...

A peleia tinha sido bunita, avoei nos loco que nem mula chucra, larguei tudo os jaguara gemendo moído no chão...

Sai campinando um trecho sem nem querer saber se iam me pagar. Peguei um pelego, uma gorpeada livre de cachaça de mentruz e saí me bandeando pros mato que lá sim é território de todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário