segunda-feira, 23 de julho de 2012

Velório de pobre, morre Zé das Cove (da vida a gente não leva nada)

Cemitério do Barranco, Linha Nossa Senhora do Caravaggio.

padre gago,
bíblia rasgada,
viúva fiasquenta,
 

cheiro de suvaco, 
caxão de papelão,
cemitério no barranco,

beberam o morto altazoras,
bêbado caindo por cima do povo,
carpideira fincando colírio no "zóio",
cunhado pedindo dinhero emprestado,
Nego Zaroio fazendo brique de gaiola por papagaio no meio do sermão,
os "fio" se tramelando no facão por causa da herança (um burro e uma carroça)
foram enterrar o morto tropicaram no barranco, caiu um garraio dentro da cova...


Enterraram junto o piá... Velório de pobre é embaçado, hoje morre o caboclo Zé das Cove, 80 anos no lombo, 68 anos capinando num lotezinho de 15x15 onde plantava couve-flor, alface, abóbrinha e alho. Levou um balaço no peito durante uma briga no bar do Potiguara, ele nem tinha nada que ver, só foi pegar um leite fiado pra dar pro seu piazinho.

Zé não vai receber nome de rua, nem receber monção honrosa na câmara, seu velório é humilde, palpérrimo, cheio de confusão, mas a saudade da família é grande, hoje eles voltam pra casa sem ver o "vétio" com a cuia na mão, sorrindo pro nada, sem seu abraço apertado e suas prosas que brilhavam os "zóio dos fio" de alegria
.

O homem que plantava, agora é plantado, pra virar adubo... Fica a saudade, porque de resto é como ele mesmo dizia: "da vida a gente não leva nada".



Se alimentou bem hoje? Então agradeça ao produtor rural
(não o latifundiário que planta soja,
mas sim o pequeno produtor)




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