terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sangue, suor e cachaça: A bodega do Nêne e o tesão do sertão (parte 2).



Logo naquela bodega, um parente distante do índio Condá havia chegado. Vindo de Chapecó-SC, era um charruá, tipo um índio adaptado a vida do branco, caçador e comerciante do mato que ia de cidade em cidade vendendo o que pegava no mato. Só que o charruá Viriato de uns anos pra cá estava convertido em um verdadeiro pirata do sertão, amarrado no seu cavalo baio e pegando chuva tinha um guri de 8 anos de idade.


O piá já tava todo cagado, virado em merda. Mas foi dentro da bodega que deu a bosta, logo o charruá Viriato que diziam ser "índio civilizado" mostrou que não honrava seu adjetivo. O cara tava como dizem "peidando de bêbado"  foi puxa pelo braço Marilu, que estava no colo de Araújo:

-Ocê deve de ter perdido o amor pela vida - falou Araújo, que logo ordenou seus 2 capangas a amarrar Viriato.


Esse por sua vez já tirou um facão que diziam que cortava até poste de luz, mesmo que esses não existissem na época. Fincou no braço de um deles, dando um voadora no outro e logo apoiando a outra perna no pescoço do outro deu um salto mortal e caindo de pé e sobreolhando ambos por debaixo da aba do seu chapéu. Araújo gritava!


Marilu fugiu gritando lá pra trás onde tinha um tanque e onde estava Ianara e o tropeiro Nego Jundiá, ou seja, ali o pau tava comendo também...


Sei dizer que só pararam Viriato com 7 tiros, um em cada xacra do seu corpo. O último tiro atingiu da sua espinha passando pelo "toba" até explodir seu saco. "Mááá home, fiz os bago do peão voar pra fora da bodega", dizia Nêne, autor dos disparos.


A festança na bodega correu solta, logo chegaram dois gaiteiros, Araújo jogava carteado com seus dois capangas e um ervateiro fumando um paieiro de meio metro daqueles que dava pra ir de Viamão-RS a Sorocaba-SP fumando o mesmo.


Esse pairento que se considerava liso no carteado era o véio Tadeu, um verdadeiro malandro de barraca, apaixonado pela buxuda gordaça Hermelina. Só que essa não lhe dava moral, metido a poeta declamava versos para ela com adjetivos como "meu suculento toicinho", "meu torresminho crocante"... 

O pior que a bicha não dava o braço a torcer pelo peão. Nêne chamou Tadeu no balcão e lhe serviu uma jurubeba:


- Má home, ocê 18 fio (filhos), vem aí pra se putiar com essa loca aí home! Largô os piá trabalhando na erva-mate, fazendo contrabando e não larga um pila drento de casa, crie vergonha nessa cara home, tudo bem que a buxuda aí se mija de tesão por você, má vá fazê festa com a tua famía (família) - lhe aconselhava Nêne.

- Cara! Eu sou cristão! Dizimista fiel, ajudei a construir a Catedral de Palmas! Minha muié é honrada, com ela não rola cu nem putaria nenhuma. Já com a Hermelina eu como a vontade, chego de arranca fejão de atrás dela! - respondeu Tadeu fumando seu paieiro.




Por coincidência uma buxada estava sendo servida na bodega. Só que Araújo, já embriagado com o "pau que era um osso" como diziam, quis dar uma de machão na frente da mulherada:


- Má o que que é isso!? Tô pagando a festa e me servem merda de boi pra comê!?

- Mas cara! É o que tem pra hoje e esse nem to te cobrando, salame, filé, charque, acabou tudo no sertão - retrucou Nêne.


- Mas ninguém aqui vai comer merda, eu trato bem meus funcionário e os meus buxo por isso não meto neles buxo dos otros, mas os teu já vão com arroz! - falou isso, sacando seu 38 e detonando a panela de barro onde estava a buxada.


Hermelina logo saiu pra fora pra junto de Jundiá que estava desossando Marilu - a amante de Araújo. A História tava pra feder muito mais do que aquele buxo explodido por toda bodega.

Nêne se cagou de medo e baixou a guarda pra Araújo que logo lhe deu uma coronhada com o revólver dizendo:

- Tá perdoado, ma saiba seu merda que quem manda nesse sertão, nesses matão esquecido por Deus, SOU EU! E por falar em comer cadê a china que estava aqui no meu colo (Marilu).


Aí que o negócio derreteu. Foi de atrás da bodega que sua ilusão foi desfeita, o "baita serpelo", como contam, de Jundiá se atravessava pra "drento" de Marilu enquanto essa gritava de prazer. E foi assim que ambos morreram, na melhor situação que um ser humano pode estar.


Araújo viu cair sua amante com correntinhas, pulseiras e o vestido que ele havia lhe presenteado além de uns 1.000 réis que ela havia lhe furtado e que estavam dentro do seu sutiã.


Mas a catuaba que o bicho tinha tomado já tinha "fazido" efeito! Não tinha como segura, com o "jumbrelo" já pra fora da calça ele caiu em cima de Hermelina, mas logo foi interceptado por Tadeu:


- Nessa, tu não vai metê a mão!

- Então vamo vê - com o revólver esfumaçando apontou para Tadeu que logo que rebostiou tudo, mas ficou firme na sua posição.


- Atira seu merda, atira, que nenhuma mulher quer dar pra um cabra ladrão de terras que nem você, no máximo querem teu dinheiro, seu explorador pau no cu!


Araújo matou Tadeu e entrou pra dentro como se nada tivesse acontecido, dizendo: 


- Arrumá otro pra fazê dupra com eu (dupla comigo).


Hermelina viu seu amado morrer por amor, coisa que carregou em suas banhas e na sua memória até o fim de sua vida. Uma puta gorda que guardava consigo um amor fúnebre mas belo do amado que a defendeu... 

Fugiu com o cavalo do charruá e com o jovem guri que havia sido raptado pelo "índio civilizado" e agora iria viver numa zona com Hermelina. 

O olhar daquela criança antes inocente, agora conhecia o verdadeiro sabor do sertão, um sabor que palpitava no peito de qualquer "bicho macho" daquelas bandas e que possuía o gosto de suor, sangue e cachaça.

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