Sexta-feira, 13 de Junho de 1991.
"Era meu último suspiro de fumaça naquele cemitério, após ter sido chama
da de GORDA BLACK METAL me sentia muito mais a vontade com os mortos do que com os vivos. Esses machões que gostam de Katinguelê e Leandro de Leonardo tinham coragem de me apontar na rua e me xingar, mas duvido que sua macheza entraria nos lugares onde a minha mente habita".Antes de uma suicida, a
Gordinha Rombrusquela, chamada assim pelos colegas da sua sala do Ensino Médio, vivia, mas vivia de uma forma diferente das pessoas que adentravam a
Padaria Doces Milagres onde fora apontada e acusada de praticar rituais satanistas simplesmente pela fraqueza daqueles que não a conseguiam ver além da
cor da roupa que ela usava.
Cor da roupa, aliás, que nada indicava além do fato de que ela estava imunizada do colorido enganoso das vitrines, ou das patricinhas do colégio que subiam o pico da Sadia para fazer por trás, assim não perdiam a virgindade, chamadas no sertão de
"putas virgens" já que tudo deixavam contanto que mantessem sua pureza.
O cheiro fétido daquele sexo era imundo aos narizes dos cortadores de frango da Sadia, mas podia muito bem ser camuflado pela fragância de um perfume Ferrari paraguaio.
Maria Fernanda Bauer, descendente dos mesmos imigrantes que criaram a festa do porco a dois vizinhos, possuía uma vida normal, mas enxergava tudo a sua volta com distintos olhos, frequentou até o terceiro ano da catequese na Igreja

Nossa Senhora do Rosário, entretanto foi expulsa pois
disse que Jesus não era um italiano corado como parecia nas imagens do livrinhos de
catequese. Sua verdadeira face era
negra e magra.
Não queria ser admirada, nem seguida, nem sentia necessidade de atrair homens, até o momento ela pensava gostar de gurias. Mas isso não foi o suficiente para convencer Barbosinha de que
ela deveria ser estuprada em cima da lápide onde estava parada refletindo enquanto fumava um Hollywood Mental - seu cigarro favorito. Após xingá-la, o playboy fincou sua Saveiro portão a dentro e pegou a menina à força enquanto ela desesperada gritava. A
sociedade que tudo via, tudo julgava, se torna cega e incapaz de fazer algo para defender uma pessoa que era julgada a todo momento na rua.
O cara foi inocentado.
Seis meses depois, Lady_Gothic (posterior nick no mIRC) conheceu um forasteiro chamado
Celsinho da Paz, sotaque paraibano cabelos longos ondulados e esvoaçantes, camisa dos Rolling Stones e um
cheiro forte de fumo que desembarcou na rodoviária após ter pego o ônibus errado e vir parar no sertão do Paraná. Chegando na praça foi abordado por dois
"porcos fardados", assim chamados por ele, lhe questionando se ele possuía
os 'tóchico' e antes mesmo dele responder já levou uma coronhada de
revólver nos "quexo" caindo no chão e já sendo erguido por uma
"bicuda" no saco. Sua mochila foi jogada no rio Dois Vizinhos, sua grana roubada e seus documentos foram queimados.
Lady conheceu-o sangrando pela testa, enquanto estava decidida a jogar uma pedra com uma corda no rio pra se suicidar - não ia dar certo pois o rio só
"moiava os garrão", má tuuudo bem. Não sabia o que fazer, logo lambeu o ferimento que imediatamente estancou. Ambos decidiram
'vazar juntos pra fora dali',na calada da noite - que era sua amiga - furtaram uma CG 125 preta na Barbosinha Veículos Semi-Novos, a garagem do pai do Barbozinha e se meteram em direção a Francisco Beltrão, levavam poucos pertences materiais mas estavam convictos de construírem uma História com suas própria mãos.
Aquela moto reluzia no escuro da BR...
O sertão se iluminava, pois o que seria das sete cores do arco-íris se não fosse o lado negro da lua?