quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Apocalipse do Sertão - Quinta Porteira: O Livro de São Cipriano na mão do Boca de Lavage (Vomitando 666 na geada)

por Tigre e Pocai

"A noite era negra, não adiantava impedir
Pois eu só tinha de ver, alguém estava me observando
Na neblina figuras escuras se moviam e rodopiavam
Seria tudo isso de verdade ou algum tipo de inferno
666 o número da besta
Inferno e fogo foram gerados para serem liberados"
(trecho de "Number of the Beast" de Iron Maiden)
inspirou os Beatles, Jimmy Page do
Led Zeppelin, Ozzy Osboune
e até Raul Seixas com sua magia.
Apesar de ser uma letra de uma conhecida banda de Heavy Metal, essas poderiam muito bem ser as palavras daquele piá de bosta, amaldiçoado e lombriguento da cidade de Mangueirinha. Acostumado a andar com um bodoque no pescoço que usava pra caçar pomba do mato, pés descalços, camiseta encardida. Fez catequese, mááá é claro que foi expulso por descer o barranco da paróquia com um papelão na bunda.

Boca de Lavagem, questionava tudo, as ordens da família, da escola e da igreja. Certa vez, olhou pro professor que dava ordens de decoréba para a turma, os playboyzinhos do fundo davam risadas e caguetaram o piá por ele estar de pé descalço na sala de aula. O professor Genaro moeu os dedo do piá com uma palmatória, a empolgação do mestre foi tanta que chegou a se cagar tudo na frente dos alunos, al mestre passou a ser conhecido entre os alunos como Mestre Churrio de Pato.

O jovem era negado onde ia, certa vez levou um tundão do bodegueiro, véio Adão, porque estava com seu bodoque. "Vô te dá uma camassada de pau sim, piá lazarento, tu tava tacando pedra nas galinha", dizia o véio enquanto descia o reio no lombo do piá, que mais tarde fugiu de onde morava, vila Esperança, chamada popularmente de vila do Amor do Facão, foi pro mato, cortou a cidade até chegar esgualepado no Tijuco Preto.
Meia-noite, lua cheia.

Este curandeiro está "extraindo"
uma enfermidade, introduzida por
magia no corpo do doente.
Morto a pau, ele adormecia até ser acordado assustado com uma bola de fogo carmareando por meio do mato, clarão parecia dia. Acreditavam que essa bola de fogo era o boi-tatá querendo "barranquear" a mula-sem-cabeça.

O xamã Condázinho acreditou que aquele piá era o Curupira, dada as suas características: pés tortos descalços, quase pelado com a roupa que é um fiapo e tudo descabelado virado em praga. O piá morto de fome, foi parar na aldeia do curandeiro que logo ia servir um chá de guavirova pra dá uma "sustança" no garraio. Só que sem querer serviu o chá de chacrona com ariri. O piá foi dormir e já teve umas visão, saiu vomitando as tripa na geada. E o vômito que tinha umas cabeça de pomba branca pelo meio, derreteu o gelo formou três 3 números: 666.

Deitou de olhos fechados na réstia da lua cheia, um frio do diabo, mas ele ali, muito loco, tendo todos os tipos de alucinaçôes. Beleza, até que ele voltou pra dentro da oca com uma larica e logo foi metendo pra dentro uns cogumelos azuis que tavam pendurado defumando num altar que apenas tinha um santo de madeira.

Pronto, feita a cagada. O piá saiu pra fora e deitou num bambuzal... Aaaaah má foi ali mesmo que rolou o bacanal. Boca de Lavagê não conta, guarda pra si sua experiência, mas transou com mais de 120 entidades espirituais falando os mais estranhos palavreados, um verdadeiro Pentecostes do sertão. "Pica na xereca", como diria o véio Arduíno, pau comeu e o piá dali 5 minuto com a Iara e a Pomba Gira ele já nem sabia o que era cabaço.

Voltou pra dentro da oca de novo, meio tongo ainda, mas já tava ligado na situação. Trupico numa raiz de cinamão, saiu tastaviando, quebro uma panela de barro e dentro dela saiu o "Livro da Lei" de Aleister Crowley - a obra havia sido moqueada ali pelo Nego Podre de Loko, um macumbeiro da região que fazia uns brique da "erva do diabo" com Condázinho. Com o nariz estoporado, pingando sangue, Boca de Lavage começou a leitura, e no meio da reflexão do verso "O amor é a lei mas amor sob Vontade", o xamã entra putiado da cara com aquele degladeio na oca e diz: 

-Polaco, tu é forte cara! - Mááá também, o piá sangrando o nariz que nem um porco faqueado debruçado na leitura.

Logo Condázinho elegeu Boca de Lavage como preparador físico do time do Colorado, o time dos Kaingang que estava disputando a 5a. Divisão da Taça Lira e que vinha sofrendo vergonhosas derrotas. A madeireira Dias, que a galera chamava de "Diabão", tinha o time líder da taça e tinha também como empresário o fazendeiro Arcindo que comprava os juízes e mandava os seus jogadores darem pau nos adversários.

Só que os Kaingang não eram fraco, não usavam qualquer tipo de calçado. Pé descalço e o lema era: "se não ganhamo no campo, ganhamo no braço". Gol roubado pro Diabão faz o jogo terminar em 1x0, causando natural revolta entre os Kaingang que se fincaram na bordoada tomando pinga e chegando na voadora pra cima do juiz

O véio Turíbio Dias viu que o pau ia comer pro lado dele, metido a ler o livro de São Cipriano, sacrificar gatos cozinhados vivos dentro da panela e amarrar boca de sapo em seus rituais de magia negra, foi cobrar de Boca de Lavagê a atitude de seus jogadores. O piá soltou sua última profecia da boca de porco

O Livro da Lei
-Tu não é o bãozão, metido a tomá terra dos meus irmãos de sangue, pegar a muié deles a laço no mato?! Passarinho que come pedra sabe o cu que tem.

Boca de Lavagê olhou para o atacante matador do time, Varitão, que estava com facão de "desgaiá" erva-mate, apontou para o véio Dias e disse:

- FAÇA O QUE TU QUERES POIS É TUDO DA LEI!

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