sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma vila chamada Rasga Diabo – contos das quebradas do sertão


Essa série desvenda o além da colonização e da caboclização, um microscópio social e literário sobre a vida nas periferias do sertão do sudoeste. Economia, política, costumes, tradições, trocas simbólicas... Ali não tem água encanada, mas tem pinga em qualquer esquina, enquanto do outro lado da rua o pastor grita pra expulsar os demônios que se manifestam num despacho de sexta-feira santa. Isso quando tem galinha pra usar na oferenda, às vezes precisam usar um tablete de caldo Knorr pra fazer macumba.


Tráfico não somente de pedras de crack, mas também de valores, ou você é mano ou é cagueta. O papo é reto, não tem burocracia nem enrolação das autoridades lá pra baixo da Avenida Tupi. Valetas, bodegas e guaipecas latindo, o chão batido da casa da benzedeira é sagrado. Ali não existem gatos de Ipanema, só bichos grilos que atravessam por drento do rio Ligeiro pra chegar no centro, playboy do Pinheiros não tem vez, se vem aqui pra buscar pó acaba se viciando no veneno da lata e virando lobisome. No mercadinho do Gringo “fiado só amanhã”. Rádio AM jorrando sangue lá pelas 7 da matina enquanto o seu Genésio pega o Alvorada-São Roque pra ir trampar na Atlas. O radialista contava de um tiroteiro que rolou no Pantulhos Bar, na verdade, lá só foi quebrada uma garrafa de Kilsen Beer.


No centro da cidade, ninguém sabe aonde exatamente é esse tal de Rasga Diabo, mas o que ninguém vê pelo zóios se ouve pelos zouvidos... Mas lá as crianças pouparam o gritedo alucinante durante um dia da escola pra escutar sua própria História.

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