terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Apocalipse no Sertão - Segunda Porteira: Êxodo da Babilônia - Reserva de Mangueirinha e Serra da Esperança (Diário de Bordo - segunda parte)

Nascer do sol na Reserva de Mangueirinha
"E vou seguindo
Caminhando, me espanlhando
Levando poeira no meu coração


Eu vou, eu vou
Sem olhar pra trás" (...)






                                                                                                              





"Eu quero ir embora antes de parar" (João Lopes e Blindagem)

12 de novembro de 2011
05:37

A História volta a ser uma viagem, violão nas costas, revistas zines na mala...

Professor, universitário? De forma alguma, o personagem que vos fala transmutou-se num maluco de BR, sobre duas rodas e sob uma lua, um micróbio se espalhando por esse corredor que é o Paraná ainda de madrugada... O dia viria me recepcionar somente mais tarde.

"Eu, eu ando de passo leve pra não acordar o dia

Sou da noite a companheira mais fiel qu'ela queria" (Raul Seixas) 

A lua foi companheira do início da viagem cósmica, minha fuga do sertão até a cidade civilizada. Sobre uma moto tudo é passageiro, Pato Branco, Coronel Vivida, Mangueirinha...

A primeira parada foi na companhia do sol, eu amanhecia perante a maior reserva de Araucárias do mundo, 17.308,07 km quasdrados de mata preservada pelos Kaingang e Guarani que ali vivem.

A lágrima que desceu foi um abraço na paisagem e um desejo que a força das lutas indígenas não cessem. Mandei boas vibrações ao cacique Valdir e logo relembrei os ensinamentos do BAGHAVAD-GITÃ e o calor daquele choro representou o grande ensinamento de Krishna,  o espírito da História andava agora na contramão (LEIAM O BHAGAVAD-GITÃ).


Do outro lado da História vejo um velho com uma enxada e um cabelo com dreads naturais do sertão, sentia o cheiro de suor e mato do outro lado da estrada. Essa foi a grande lição daquela manhã.

Caí na estrada pra voltar às raízes, me perdi na rodovia pra me encontrar em outras vidas. Família tropeira e lenheira, os Pocai eram conhecidos por suas aventuras nos morros do Rio Grande e nos sertões do Paraná muito antes de eu pensar em botar a bota na estrada e escrever as primeiras linhas. Minha família era meio excluída dos jantares da elite gaúcha e dos churrascos dos fazendeiros e deputados de Palmas e Clevelândia:Ao som desse Creedence descendo a Serra da Esperança esperava via que a grande felicidade era ser do meu jeito, considerado louco sem remédio mas também sem tédio.
A Serra da Esperança,
ao fundo o "Chapéu do Bispo".
"Não sou eu, não sou eu Eu não sou filho de um milionário, não Não sou eu, não sou eu Eu não sou nenhum felizardo, não"


Cachoeira, oásis no sertão
E foi enrolando aquele palinha ao som de Creedence que lembrei todos os banhos nu nas cachoeiras, comendo cogumelos azuis, tomando mate com os caboclos no interior desses belos sertões. Como uma pessoa dessa pode ser considerada normal?


O sangue é o passado, mas o futuro é o Apocalipse.

Se antigamente resolvíamos tudo na bala, posteriormente a natureza vai cobrar nossas atitudes péssimas perante ela.


E agora entendo porque do meu jeito debochado ideológicamente falando escrevi e até estive do lado dos estudantes, trabalhadores, sem-terra, indígenas e caboclos...

Mas definir um posicionamento político no sertão não é o suficiente, muito distante daquele CAOS URBANO lembro que ainda falta fugir com essa Águia Negra pelo sertão (moto), enfrentar as 2 bestas, derrubar os 10 reis, recusar a sedução da metetriz, aceitar os 7 flagelos de Deus e por fim resistir em meio a queda da Babilônia. O dragão que possuo dentro de mim já foi domesticado (LEIAM O APOCALIPSE).

Foi nessa estrada do sertão que aprendi que o destino da viagem é a gente quem faz, temos que aceitar o caminho escolhido e não se arrepender. Se um maremoto invadir os sertões, se os prédios desabarem, se as pessoas se perderem, tudo será dor e sofrimento, mas penso que essa é a única forma de darmos um basta nos nossos erros.

Por outro lado, escuto os pássaros sob essas árvores e penso que essa sociedade já deu no saco!
"O sertão vai virar mar"

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