No
meio da floresta, uma barraca impovisada com lona e pedaços de pau. Assim como
o fogão. Em roda, algumas frutas, milho verde, água em garrafas e a solidão –
mal do século, segundo o poeta. O ambiente em que vivia o criminoso mais
procurado do Sertão faz-nos perder na localização geográfica e temporal.
Bicho-do-mato do tempo antigo exibe o tateto e a espingarda, daquelas de socá pólvora (Foto: Júlio Oldin) |
O
caso lembra outros do tempo antigo, quando o mato do Sudoeste abrigava
foragidos da justiça. Nesse tempo pré-colonização, muito bandido fora da lei
fixou residência em qualquer tapera onde fosse possível viver pro gasto sem ser
incomodado.
Nos
idos de 1940 e tanto, um desses foragidos foi encontrado no mato e pelo seo
Carlos Oliveira, que abriu as primeiras picadas de Pato Branco até a fronteira.
E Carlinhos descreveu ao seo Jorge Baleeiro como o sujeito se mantinha dentre a
floresta:
“Só
de favo de mel tinha, numa gamela, bem uns dez. Era parte do alimento daquele
caboclo. Dependurado, como se fosse um socol, uma banda de tatu e um pedaço de
capivara moqueado. Era um verdadeiro homem-do-mato. A conversa toda girava em
torno de caçada, disso e daquilo, principalmente de tateto. Falava também em
onça rondando sua cabana. Às vezes mantinha um tateto amarrado numa corda.
Quando desejava ter carne para mais tempo, salgava a caça e deixava secar”.
A
mesma opção fez Reolon, mais de 60 anos depois. Não obtendo sucesso na
tentativa de matar a sí próprio, depois de tirar a vida da família, optou por
viver como foragido entre as árvores e o pouco que resta de animais. Virou um
legítimo bicho-do-mato e incorporou o sertão – que é um jeito de ser, uma
espécie de estado de espírito – vivendo longe das solicitações de jogos do
Feiceibúque e dos palestrantes motivacionais.
O bicho-do-mato do século XXI: o sertão continua sendo esconderijo de foragidos (Foto: Site Notícias Policiais) |
Talvez
pela carência de bichos na mata em que vivia, Reolon, na vanguarda do neocaboclismo, se viu obrigado a atacar
nos potreiros vizinhos da sua grande macega e acrescentou mais 16 mortes à sua
conta. Fiado que o bodegueiro marcou na caderneta, junto às outras seis de
gente. E que foram devidamente cobradas na manhã desta sexta-feira. Agora,
serão pagas pelo método judicial de acertar contas: o privando da liberdade.
A
história desse “sanguinolento assassino” – como noticiaria a imprensa de
antigamente, em letras garrafais – é um curioso caso de estudo
antropológico, psiquiátrico e o diabo a quatro. Viveu três anos integrado à
natureza, agora, pelo contrário, dormirá sobre o concreto. Mas, advertiria
Guimarães Rosa, o sertão está em toda parte.
"Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso".
Guimarães Rosa