sábado, 13 de agosto de 2011

Pau, pau e pau no Rincão Torcido - Parte I


Lá pelos idos de 1947, após a fundação da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO) o pessoal de Beltrão ia dum lado pro outro do sertão do Paraná planejando bailões pra integrar a região recém-criada. A gringaiada peleava nessas lidas para poder se divertir, enxer o c* de cachaça e dar tiro pro alto (ARTE: Wellington Mitrut).


Atrasado, desceu corrido de cima do morro do urubu [1], saia de "drento" da patente o Gringo Rebosteio desbravador do sertão do Paraná e um dos fundadores da CANGO. Tava completamente atrasado para o baile que ia eleger a Miss Rincão Torcido... o porque do seu atraso logo conto com mais uns dois dedos de prosa...

Desceu desbarranquendo e torcendo o bigode - como de costume -, pisando nas poças d'água, bostas de égua chucra e tudo que vinha pela frente enquanto ia erguendo ceroula e o seu mijão [2] por cima e se fincava pra subir no trator do Véio Guanxume, véio mais grosso que pino de patrola, que já tava soltando uns "Porco dio, vamo caganeira" na boléia do trator.

Logo na caçamba ia Nego Vardo, um baita bugrão que só falava trabalhava que nem um potro (cavalo) dando coice na cerca, mááá quando o assunto era 'muié' e cachaça o home não ficava nenhum pouco atrás. Era mula do contrabando que vinha pelos rios Sant'Anna, Chopim e Marrecas.

Além dele, o Zandoneno, um cara susse, da paz mesmo, não mexia com ninguém, era bom amarrador de palanque, estrategista de erguer segurar bracatinga que aguentava gaiteiro gordo que nem porco o dia inteiro no palco dos bailões do sertão.

E João do Potreiro, comedor de galinha, pato, marreco, começou com as aves, logo pulou pra porca, ovelha, cabrita mas dizia ele que seu prazer maior era com égua. Acontece que essas História zoofílicas ele não abria assim, guardava pra seu prazer íntimo. Ah não ser quando no seu rancho, dentro de um galpão, as cadelas davam uns uivos altos e todo mundo se ligava da orgia canina que lá rolava.

E logo Rebosteio pintou na banca, pulando a tábua da carroceria e caindo com os dois pés sobre o tabuedo. Mas Gringo Rebosteio não é Rebosteio se não tiver incrementado de um total cheiro fétido e anal de bosta...

5 minutos antes, Rebosteio na patente ia dizendo enquanto sua merda caía no fundo da vala:

-Puta merda! Acabo o sabugo de milho e agora com o que que vô limpa o cu?

Logo seus pensamentos foram interrompidos pelo gritedo do véio pino de patrola:
-Porco dio, vamo caganeira, largue o merdedo aí rápido que tamo atrasado.

Rebosteio passou a mão nas pregas do seu toba e estoletiou a bosta na parede do lado duma imagem duma índia pelada da revista Cruzeiro. Descendo o barranco, não se ligou do estado que estava sua mão e foi logo torcendo o bigode.
Chegando no trator foi logo questionado pelo quietão Zandoneno que nunca falava mas tinha se ligado o que tinha acontecido e logo não perdeu a tirada:

-Véio, como que tu faz pra deixar o bigode lustroso desse jeito?
-É que eu TRÓÇO todo dia - logo Nego Vardo bêbado se despiguelou de dar risada e se mijou todo no chão enquanto aquele trator pulava pelos buracos da estrada, Guanxume ia soltando seus "porco cane" na boléia e a calça vartomundo de João do Potreiro ia se avolumando enquanto observava uma tropa de éguas que ia cruzando uma clareira entre a mata de araucárias, escutando uma gralha negra corveando sobre uma árvore canela, uma família de tatus ia se embucando na toca e a brisa tocava o rosto dos peões de lida que iam atravessar o matagal por três dias para chegar em Clevelândia armar aquele baile...

Esses personagens se tornam meros detalhes adaptados a natureza, a verdadeira História está na bela pintura que era a paisagem do sertão...

Logo um tiro interrompeu o voo a passarada, Guanxume Pino de Patrola com seu trabuco esfumaçando numa mão, um litro de pinga na outra e segurando o volante do trator com seu bagos soltou um grito: "Porcozio: Pau, pau e pau no Rincão Torcido!"

1-Inspirado e retirado de "Cabrilinda" da banda Paraná Blues.
2-O "mijão" era uma calça usada por baixo da bombacha para que ninguém se esfriasse nas veredas do inverno sertanista do sudoeste do Paraná

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